segunda-feira, março 12, 2007

Pra quem eu nunca vi

Neste contexto social cada vez mais individulista, sinto-me cada vez mais imbuida neste isolamento interpessoal.
A minha vida está cada vez mais impregnada de uma solidão que ao mesmo tempo me conforta.
Conforta porque neste turbilhão de emoções mal interpretadas, ou dirigidas, de intenções mal projectadas, ou desfocadas que é o mundo do relacionamento humano, cada vez mais se afasta da minha realidade. Por outro lado, não sei até que ponto quero deixar de viver estes conflitos. Pois sem estes conflitos o que é da nossa raça?
Lembrei-me de um texto que escrevi há 11 anos, quando não existiam blog's e quando o papel era o meu único suporte emocional. E resolvi colocar esse texto aqui, por se manter estranhamente actual:


Estou mais uma vez à margem do rio. Por ele outras vidas passam, mas a minha.. a minha quase não existe. Diluiu-se com a água corrente e agora faz parte do cenário de outras que buscam o mesmo fim, a mesma morte.
Sem reacção deriva pelo rio, onde tudo tem significado, onde não há mistério algum.
Deixa-me navegar em paz e não me incomodes com amizades (?). Preciso de alguém que não me queira, preciso de alguém que não existe.
Hoje um pássaro numa gaiola disse-me que não passamos de criaturas que coabitam numa gaiola gigante, cuja vantagem é o poder do isolamento no meio de uma multidão.
Sinto que cada vez mais me distancio de todos, me isolo, me torno diferente, sem qualquer estatuto, apenas diferente.
Cada vez o rio se torna mais estreito e sem hipoteses de escapa.
Criatura imbecil, diz-me que mais queres que faça para dizer que a minha alma precisa da tua? Onde andas?
Nunca mais me encontras e começo a ficar farta e ainda nem te conheci.
Porque tenho de esperar tanto? Ok. Talvez para te dar o devido valor quando te encontrar.. mas antes disso quero dizer-te que te adoro, te venero e que te vou amar até ao fim.
Fode-me a alma, cada dia que passa e não te vejo. A vida escasseia e mal posso esperar por mergulhar na tua encantadora pessoa, navegar contigo até ao fim do rio, até ao fim desta nossa linda e farta existência.
(09/10/96)

Ler isto que escrevi com os meus 18 anos, provoca-me sentimentos mistos de conforto e desassossego.. Por um lado sinto um conforto estranho, por outro, sinto algo assustador por ser tão actual.
A única diferença é que já não procuro por quem nunca vi.

3 comentários:

ARN disse...

Eu lembro-me de me mostrares isto há uns tempos. Fiquei supreendida de voltar a encontrar o texto, é que não me tinha esquecido dele. A água do rio já mudou, já é nova, só o chão em que se abre é que nunca muda.Bj*

In Lak'ech (sou um outro tu) disse...

Obrigada minha querida pela tua lembrança.. A água pode ser nova mas sensação de navegar neste rio mantêm-se.

nádia disse...

isto é tão eu!looool AMEI

A leveza de Ser equivale ao peso da consciência..