quarta-feira, abril 24, 1996

A fuga

Foi num dia de tempestade, que o criador se esqueceu de tapar a caixa das realidades concretas e das realidades sobrenaturais que elas se espalharam com o vento pelo universo. Fazendo o que lhes dava na gana, esquecendo-se da educação que lhes fora dada por ele.
Existiam sobre a lei da decadência e do ócio. Não respeitavam nada nem sequer a eles próprios.
E quando ele se apercebeu, era tarde demais, pois elas tinham ocupado um planeta e criado criaturas estranhas, bizarras e pouco inteligentes, e tinham-nas influenciado, desmedidamente e desequilibradamente.
Essas criaturas eram no geral infelizes, pois a Felicidade foi sempre muito semítica, mas havia quem fosse feliz, não porque a felicidade tivesse sido generosa mas porque a Loucura andava por perto.
Então a Natureza criou um espaço habitável e o Tempo deu um pouco de si a esse espaço. Depois chegou a vida que se deu a essas criaturas e mais tarde chegou a Morte, que não sabia ainda bem o seu papel mas que, no entanto, o executava na perfeição.
Mais tarde chegaram o Prazer, a Alegria, a Droga, o Amor, a Tristeza, a Inteligência, a Astúcia, a Burrice e o Pessimismo. E espalharam-se, como já disse, pela multidão de criaturas, prendando-as com um pouco dos seus caracteres e personalidades.
Então o criador, ao ver isto, tentou remediar a situação, fazendo ver a essas criaturas que ele é que era o criador delas e de todo o universo. E tudo o que elas tinham de fazer em troca da sua existência era alcançar um estado de espírito superior, para puderem sair daquele mundo cheio de equívocos e receberem uma recompensa num mundo bem longe dali, criado, desta vez, por ele.
E enquanto, vida após vida, morte após morte, as tais criaturas estranhas lutavam para saírem daquele mundo, todas as realidades foram para um planeta escolhido pelo criador, que as castigou e as prendeu, e de onde nunca mais saíram.
A leveza de Ser equivale ao peso da consciência..